Como agir em relação aos conteúdos que são ensinados e aprendidos de forma não explícita na escola
CATARINA IAVELBERG “As
ações serão eficazes quando contribuírem para melhorar a qualidade do ensino e
da aprendizagem.” Foto: Marina Piedade
A orientação educacional tem o compromisso de auxiliar a escola em sua
função socializadora, criando ou reformulando ações pedagógico-educacionais e
favorecendo a articulação de valores que resultem em atitudes éticas no âmbito
do convívio social. Ainda que a instituição não conte com um cargo específico
para essa função, suas atribuições precisam ser realizadas no dia-a-dia.
Como esse campo se ocupa em desenvolver estratégias para a aprendizagem dos
conteúdos atitudinais, um dos papéis mais importantes do orientador é gerenciar
o currículo oculto. A maior parte dos problemas tradicionalmente enviados para
a sala dele (exclusão de sala de aula, furto, briga, bullying, mau uso
dos espaços coletivos, cola em provas, plágio de trabalho atitude de
desrespeito ao professor) está vinculada a esses “conteúdos” que são ensinados
e aprendidos de forma não explícita nas relações interpessoais que se constroem
na escola.
Trata-se de um equívoco acreditar que esse educador deva se ocupar
exclusivamente dos alunos (em especial os tidos como indisciplinados e os que
têm baixo rendimento) e de suas famílias. Infelizmente, ainda existem escolas
que trabalham nessa perspectiva antiquada e “psicologizante”, que posiciona o
orientador educacional como alguém destinado a abafar (e não resolver) os conf
litos na base da mediação com estudantes, pais e professores. Esse modo de
atuar, eticamente ineficaz, faz com que esse profissional muitas vezes se sinta
como um bombeiro, que todos os dias apaga incêndios e deixa brasas pelo
caminho. Fechado numa sala geralmente distante dos espaços onde o currículo oculto
se manifesta, ele acaba brincando de investigador de polícia, juiz ou psicólogo
clínico. Alguns ficam constrangidos por terem de atuar assim. Mas há os que
exercitam com satisfação esses pequenos poderes.
Uma abordagem contemporânea do trabalho compreende outras competências para
o orientador educacional. Ele deve ter certo distanciamento da demanda aparente
(queixa) para promover uma escuta analítica que o leve a identificar os
agentes, os valores e os conflitos nela envolvidos. Também está sob sua responsabilidade
desencadear ações que ampliem o diálogo e a compreensão entre os protagonistas
da comunidade, sem jamais negar a natureza dos conflitos. O exercício dessas
competências só é possível quando o orientador educacional deixa a rotina de
sua sala e se insere em outros espaços para procurar e explicitar os elementos
do currículo oculto. As ações serão eficazes quando contribuírem para melhorar
a qualidade do ensino e da aprendizagem, o que requer a interlocução com a
equipe docente e o entendimento do sujeito como um ser histórico, crítico e
social. Embora o orientador educacional não seja um especialista nas didáticas
– essa é a especialidade do coordenador pedagógico –, ele deve ser capaz de
identificar se a ação docente está de acordo com os princípios que norteiam o
projeto pedagógico da escola.
É imprescindível sua participação nos momentos de formação dos professores,
desenvolvendo estratégias para problematizar o convívio e as relações entre as
pessoas. Trata-se de promover coletivamente o abandono do discurso pessimista e
paralisador do fracasso da escola e do aluno e debruçar-se sobre os obstáculos
que precisam ser superados. Existem diversos aspectos que compõem uma boa
parceria entre o educacional e o pedagógico. A seguir, alguns exemplos:
• Compartilhar as observações do cotidiano escolar que ajudem a descobrir os
aspectos do currículo oculto.
• Problematizar temas relacionados à qualidade do convívio, tais como valores,
uso do espaço coletivo, furtos, violência, questões de gênero, preconceito etc.
• Refletir sobre a formação ética do sujeito social por meio da análise dos
temas transversais nas diversas disciplinas e da seleção dos temas sociais
complexos e o momento mais apropriado para introduzi-los em situações de
aprendizagem.
• Investigar a escola sob novos paradigmas, entrando em contato com a produção
de teóricos da ciência, da sociologia e da psicologia da Educação.
• Compreender as características da diversidade da família moderna e seus
impactos na Educação.
• Informar-se sobre as principais características dos alunos com necessidades
educativas especiais e como garantir a socialização e a aprendizagem.
• Construir acordos educativos coletivos que comuniquem o resultado da reflexão
da instituição sobre as práticas e sirvam de parâmetros para futuras ações.
A integração do educacional com o pedagógico só funciona nas escolas que
acreditam e apostam na troca de experiências e saberes, com o apoio
institucional necessário e a adesão de gestores e docentes que não temem buscar
oportunidades para propiciar o desenvolvimento de suas competências
profissionais.
CATARINA IAVELBERG (gestao@atleitor.com.br)
é assessora psicoeducacional especializada em Psicologia da Educação.
Disponível em: http://revistaescola.abril.com.br/gestao-escolar/orientador-educacional/curriculo-oculto-448775.shtml . Ascessado: 14/09/2012

Nenhum comentário:
Postar um comentário